FONTE: Comércio da Franca
A prisão de um advogado no início da noite desta quinta-feira encerrou uma das maiores operações da Dise (Delegacia de Investigação Sobre Entorpecentes) de Franca contra o tráfico na cidade. O advogado criminalista JPRV, de 59 anos, é acusado de atuar como intermediário para a comunicação entre MBP, de 35 anos, conhecido como Bicho do Mato ou BM - apontado como líder francano de uma facção criminosa que atua no Estado de São Paulo e que está preso - e seu “sucessor” conhecido como Vandi, de 28 anos.
O envolvimento do advogado com o caso teria começado, de acordo com as investigações da polícia, ainda em outubro do ano passado, quando BM foi preso durante uma apreensão de drogas. “Naquele dia, um dos nossos investigadores encontrou uma anotação deixada por este advogado em que ele toma nota de tudo o que a polícia apreendeu em termos de dinheiro e drogas”, disse Leopoldo Gomes Novais, delegado adjunto da Dise e responsável pelas investigações.
Cerca de 10 dias depois, quando BM foi ser transferido da Cadeia do Guanabara para uma cela do CDP (Centro de Detenção Provisória), uma carta em que ele transferiria o comando da facção para Vandi é encontrada pelos policiais e encaminhada para a Dise. “Com esta informação em mãos, passamos a investigar a atuação de Vandi e em uma das ações em sua casa encontramos outra carta, desta vez, escrita no que parecia ser um papel de escritório jurídico. Foi quando nosso investigador se lembrou de ter visto aquela mesma letra nas anotações feitas pelo advogado”, disse o delegado.
Leopoldo Gomes solicitou, então, que fosse feito um exame grafotécnico para comprovar se as anotações feitas no dia da prisão de BM e a carta encontrada na casa de Vandi teriam sido escritas pela mesma pessoa. “Ainda tínhamos arquivada aqui uma procuração feita por este advogado e a incluímos no exame. O resultado deu positivo. Todos os três documentos foram escritos pela mesma pessoa.”
Na carta apreendida na casa de Vandi, BM dá ordens específicas para seus comparsas que, até então, ainda estavam em liberdade (veja ilustração). “Ele orienta e determina a continuação da venda de drogas, trata da aquisição de mais entorpecentes e ainda se refere a uma devolução de uma quantidade específica de drogas a um traficante. Todas as ações concretizadas mais tarde e que permitiram à polícia prender essa quadrilha”, disse Leopoldo.
Para o delegado a participação do advogado, escrevendo a carta durante suas visitas a BM no CDP e posteriormente entregando-a a Vandi, extrapolou seu dever de defesa do cliente e que configura crime. “Toda a investigação que fizemos foi acompanhada de perto pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado), que nos auxiliou nas oitivas de testemunhas e na coleta de outras provas que permanecem em segredo de justiça. O inquérito envolvendo esta quadrilha foi concluído no dia 27 de dezembro e encaminhado aos promotores judiciais que ofereceram denúncia à Justiça.”
A denúncia foi acatada pelo juiz da 2ª Vara Criminal de Franca, que acolheu o pedido feito pelo delegado com o apoio do Gaeco para que o advogado fosse preso preventivamente. “Recebemos o mandado de prisão hoje (ontem) e o executamos. O advogado foi preso quando saia de sua casa para ir ao supermercado. Não ofereceu resistência e acompanhou os policiais sem criar qualquer problema.”
À noite, o criminalista foi transferido para uma cela especial na Cadeia do Guanabara. Seus três advogados estiveram presentes na delegacia, mas não quiseram dar entrevista alegando desconhecer os termos da prisão. Se limitaram a informar que JPRV é um profissional de “reputação ilibada e que atua de forma exemplar em Franca há 19 anos”.
Sua mulher e seu filho também estiveram no local, mas se recusaram a dar declarações. Quase no final da noite, membros da Comissão de Ética da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) foram até a delegacia acompanhar a transferência do preso.
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