quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Tiririca - E como é fácil agradar (ou enganar?) os brasileiros.


Em 06 de dezembro de 2017 o Deputado Francisco Everardo Oliveira Silva, mais conhecido como o Palhaço Tiririca, fez o seu primeiro (isso mesmo: primeiro) e último discurso na Câmara dos Deputados (vídeo no final do texto).

A repercussão de tal discurso é excelente, para entender o sucesso do ex-presidente e de alguns possíveis candidatos a presidência do país, estes que não possuem eleitores e sim fãs que nada deixam a desejar a aquelas adolescentes, fãs ensandecidos, que se descabelam ao ver Justin Bieber, Lady Gaga ou qualquer outro ídolo pop, acenar (ou cuspir) da janela do hotel.


Para grande parte dos brasileiros, um político pode estacionar uma Ferrari e discursar contra a péssima qualidade do transporte público ou elogiar o SUS logo após realizar um check-up no Sírio-Libanês que eles simplesmente são incapazes de analisar o discurso perante a realidade de quem o profere. 

Mas vamos ao Nobre Deputado, quando candidato, seus principais slogans foram:

"Pior que está não fica..." e "Você sabe o que um deputado faz? Eu também não, vote em mim que depois eu te conto."

Com tais slogans, ele foi um dos deputados mais votados nas duas eleições do qual se sagrou eleito. 


Mas vamos ao discurso, após sete anos como deputado, na única vez que subiu a tribuna para discursar, criticou a má qualidade da saúde, da educação brasileira, a falta de interesse da maioria dos  políticos e chegou até comentar de um político que o tratou com desdém, porém descobriu depois que o tal, possuí "mais de cinco processos..".

Fez questão de ressaltar que a realidade dos deputados é diferente da maioria dos brasileiros, pois recebem líquidos (nas palavras dele) "uns R$ 23 mil reais, se não me engano" e para mostrar que é do povo e conhece a realidade, contou que a mãe não tem plano de saúde e foi internada em um hospital público em razão de uma emergência.

O discurso se tornou viral nas redes sociais e o político Francisco Everardo conseguiu agradar (agradar?) quem apenas ouviu e não avaliou tal discurso. Vamos a alguns pontos:

* O deputado precisou de sete anos para perceber o que qualquer brasileiro está cansado de saber;

* Saúde, educação e olha que ele nem falou da Segurança Pública, com mais de 120 PMs mortos só no Rio de Janeiro apenas em 2017, mas ele poderia citar também as cidades brasileiras que estão entre as mais violentas do mundo;


* Ele foi reeleito e no primeiro mandato, em quatro anos, em nenhum momento foi a tribuna usar sua ótima retórica para criticar os políticos acusados e ou presos, a falta de investimentos em saúde, educação, segurança, corrupção e qualquer outro dos inúmeros problemas que nós vivenciamos diariamente no país;  

* Não teve interesse em expor o político que o ofendeu e é mais "sujo que pau de galinheiro";


* Fez questão de citar a mãe que foi internada em hospital público, sendo impossível não lembrar do outro político que é "filho de mãe que nasceu analfabeta";

* Disse que foi destaque como um dos melhores deputados, só esqueceu de dizer que tal "destaque" apenas versa a respeito de comparecer ou não as sessões da Câmara;

* Agora, um filho que recebe R$ 23.000,00 por mês (não contando os valores que recebe como artista que é) e não se preocupa em pagar um plano de saúde para a própria mãe e em uma emergência a leva a um hospital público e usa o exemplo com orgulho é, no mínimo, estranho.

Agora vamos lá:

Imaginem ele fazendo discurso semelhante desde o primeiro ano de mandato, subindo a tribuna e cobrando os outros deputados a respeito dos inúmeros escândalos durante esses 7 anos no cargo de deputado. 


Mas não, ele esperou sete longos anos para "se envergonhar", contra tudo que nada fez para mudar durante seus quase dois mandatos como deputado.

Há sete anos o que você fazia?

Caso fosse um calouro na faculdade, hoje já é um engenheiro há quatro, advogado há três, está no último ano de residência médica - caso há sete fosse um calouro de medicina.

Em sete anos quantos morreram vítimas indiretas da corrupção, seja em decorrência da violência ou em hospitais lotados e sucateados?

A repercussão "positiva" do discurso do Deputado Francisco Everardo, nos leva aquela frase conhecida: existe diferença entre ver e enxergar. 

O brasileiro antes de aplaudir discursos deveria avaliar melhor as ações de quem os profere. 


 A moral se edifica com o bom exemplo, não com palavras.” 
 Carlos Bernardo González Pecotche

*Uma observação final, foi divulgado outro vídeo em que o Deputado Francisco Everardo, diz que um ex-presidente, condenado em primeira instância em um processo criminal e réu em outros tantos, pode contar com ele para pedir votos e outro que elogia o ex-presidente e réu, pede mudanças, porém, assume o voto sem mudanças (vídeo 2).

Vídeo do discurso:



 

Vídeo da próxima campanha: